domingo, 3 de junho de 2012


POPULAÇÃO
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Item: Conflitos Étnico-nacionalistas e Separatistas

Parte: 3 de 7
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            2 - A Questão Basca... O povo basco habita o norte da Espanha e o sul da França há mais de seis mil anos e forma um conjunto de aproximadamente 2,5 milhões de pessoas. Trata-se de um povo que preserva sua identidade e que tem língua (Euskera) e cultura própria.

O conflito surgiu no fim do século XV e início do XVI com a unificação do reino espanhol. O povo basco resistiu ao longo dos séculos à diversos tipos de invasões, até mesmo dos romanos; hoje sua luta continua sendo a busca por manter sua identidade cultural.
            Durante a ditadura do General Franco (1939 – 1975), surgiu em 1959 o grupo separatista ETA (Euskadi Ta Azkatasuna, que significa “Pátria Basca e Liberdade”); inicialmente era um movimento político, de cunho socialista, originário da união de grupos partidários. No entanto, havia um clima de descontentamento no País Vasco (na Espanha, Basco é escrito e fonado como Vasco).
“Desde a Guerra Civil Espanhola (1936-39) e do bombardeio à cidade de Guernica pelos nazistas alemães como represália ao apoio do povo basco aos republicanos, então aliados dos anarquistas e socialistas e, a proibição do vasconço em todo o território basco pelo general Franco, o sentimento nacionalista basco foi se tornando cada vez mais forte. Estes fatos, também contribuíram para que o ETA decidisse pela luta armada e tivessem o apoio da população.”


Terminada ditadura de Franco, os bascos passaram a desfrutar de relativa autonomia naquele país, chegando a possuir um sistema de impostos, parlamento e polícia próprios.
            No entanto apesar de não contar com o apoio da maioria dos bascos, a organização terrorista, criada durante a ditadura de Franco, realizou atentados, desde o final dos anos 1970, com o objetivo de pressionar o governo espanhol a reconhecer a independência total do País Basco. No fragmento abaixo vemos a situação atual do ETA.
Atualmente o Partido Nacionalista Basco (PNV) tenta um acordo com o governo espanhol para a realização até o final de 2008, em caráter consultivo e, até 2010 de forma definitiva, de dois plebiscitos onde o povo basco decidirá sobre o tipo de governo a ser adotado e sobre a relação política entre o País Basco e a Espanha. No entanto, o primeiro – ministro espanhol, José Luis Zapatero, rejeita o plano Ibarretxe, como é chamado o plano lançado pelo PNV. Até lá as expectativas apontam que o ETA deverá decretar mais um cessar fogo como próximo ao plebiscito como manifestação de apoio ao PNV.


            3 - A Questão da Irlanda... O acordo celebrado na Irlanda do Norte pretende por fim a séculos de dominação inglesa e a décadas de terrorismo de guerrilheiros separatistas e de paramilitares protestantes.
            Nas últimas décadas, as ações terroristas do IRA ( Exército Republicano Irlandês), organização "católica", e da Força de Voluntários do Ulster, força paramilitar "protestante" foram responsáveis por dezenas de mortes e representaram o problema externo mais grave enfrentado pelos governantes da Inglaterra.

            A história da Irlanda é totalmente desconhecida no ensino brasileiro, e o conhecimento da história da Inglaterra é superficial, em seus "grandes momentos", como a formação da Monarquia, o absolutismo ou a Revolução Industrial e nunca faz referência ao domínio sobre a Irlanda. Então surge a pergunta: Por que a guerra entre católicos e protestantes? Se na maioria dos países ocidentais existem várias religiões convivendo pacificamente, por que isso não ocorre na Irlanda do Norte?

Origens do Conflito
            Para compreendermos o problema, temos que buscar suas raízes no século XII, quando começou a conquista inglesa do território irlandês e a partir de então podemos perceber que o problema não é religioso, pois nesse período não havia "protestantes". O que estava em jogo era o aumento do poder real, no contexto da crise feudal e do início do processo de formação da Monarquia Nacional. Para Henrique II, a conquista de territórios significava o aumento de seu poder, uma vez que, a nobreza irlandesa tornava-se vassala do rei e consequentemente passava a lhe dever benefícios, tanto em gêneros, como em tributos ou inclusive em homens para a formação de exércitos. Desde 1175 o rei impôs seu poder através da Tratado de Windsor, a partir do qual passaram a valer as leis inglesas para a Irlanda.
            O domínio da Inglaterra retraiu-se durante os séculos XIV e XV, período de crise decorrente da Guerra dos Cem Anos (1337 - 1453) contra a França; e da Guerra das Duas Rosas (1455 - 85), que envolveu praticamente toda a Inglaterra, numa disputa entre as grandes famílias de nobres pelo poder. Após a Guerra das Duas Rosas iniciou-se a Dinastia Tudor, que centralizou o poder e, com Henrique VIII consolidou o absolutismo no país. O governo absolutista na Inglaterra teve como um de seus mais importantes alicerces a Igreja Anglicana, criada pelo próprio rei no contexto da Reforma Protestante, reconhecida pelo Parlamento como Igreja Oficial do Estado através do Ato de Supremacia (1534) Durante a Idade Moderna as igrejas europeias, não só a Anglicana, foram utilizadas como instrumentos de poder, e não só na Inglaterra. A característica marcante do ponto de vista religioso foi à intolerância, praticada por reis e clérigos: Assim como os protestantes eram perseguidos nos países católicos, esses eram perseguidos nos países protestantes, como na Inglaterra a partir de Henrique VIII; foi assim que o conflito com a Irlanda passou a ter feições religiosas.
            A imposição do poder absoluto inglês foi acompanhado da imposição da nova religião. Dessa maneira, a manutenção do catolicismo por parte dos irlandeses tornou-se uma forma de contestar o domínio inglês, além de preservar sua própria cultura.
            A contestação ao domínio inglês representava a luta contra o poder político e religioso já que os dois estavam concentrados nas mãos do rei, principalmente durante o reinado de Elizabeth I, que impôs os Estatutos de Supremacia e Uniformidade, reafirmando a supremacia da Igreja e das leis inglesas sobre a Irlanda.

O século XVII
            Durante o reinado de Jaime I (1603-25), consolidou-se o controle das terras pelos ingleses, em especial na região do Ulster, onde foi instituído um sistema de colonização baseado na pequena propriedade, discriminando-se os irlandeses.
            A situação de exploração e miséria, e de imposições político-religiosas determinou o início de uma grande rebelião em 1641, violentamente reprimida pelas tropas de Oliver Cromwell, líder da Revolução Puritana, fanático calvinista que havia deposto o rei e proclamado a República na Inglaterra, que derrotou completamente a rebelião em 1652, quando então, a maior parte das terras passaram para a mão dos ingleses.
            Até o final do século os irlandeses rebelaram-se outras vezes e foram reprimidos, consolidando-se o poder inglês. Após a derrota de Jaime II em 1690 os irlandeses viveram um período de miséria e de perseguições, responsável pelo desenvolvimento de um maior sentimento nacionalista e católico, uma vez que a repressão inglesa passou a estar associada à religião "protestante".

A independência
            A repressão inglesa e o sentimento nacionalista foram responsáveis pela eclosão de uma Revolução em 1798, dirigida por uma sociedade secreta denominada Irlandeses Unidos.
Em 1829, um movimento nacionalista e popular conquistou alguns direitos políticos e civis para os católicos, que poderiam ocupar a maior parte dos cargos públicos, apesar da manutenção do voto censitário.
            Entre 1847-48 o país foi assolado pela fome (devido à praga na cultura de batata) e por uma epidemia de tifo, responsáveis pela morte de aproximadamente 800.000 pessoas, cerca de 10% da população total do País. Nas décadas seguintes a crise foi responsável pela grande imigração, principalmente para o norte dos EUA.
            Em 1905 foi fundado o Sinn Féin (nós sozinhos) importante movimento nacionalista que se propunha a lutar pela soberania da Irlanda de forma legal e que, com grande apoio popular, elegeu em 1918 a maioria dos deputados irlandeses ao Parlamento Britânico. Fortalecido, o Sinn Féin proclamou unilateralmente a independência da Irlanda, provocando a reação inglesa e de grupos protestantes da região do Ulster (norte). Depois de dois anos de conflitos, em 6 de dezembro de 1921, foi assinado um tratado pelo qual a Irlanda ( com exceção do Ulster) tornou-se um Estado independente, porém considerado ainda como domínio da coroa inglesa, integrando a commonwelth.
            A independência completa foi obtida a partir da Constituição de 1937, quando a Irlanda passou a denominar-se EIRE, desvinculando-se completamente da monarquia britânica; porém essa situação somente foi reconhecida pela Inglaterra em 1949, que concedeu autonomia ao Ulster, que passou a denominar-se Irlanda do Norte.

"IRA"
            Fundado em 1919, o IRA ( Irish Republican Army) passou a utilizar-se da guerrilha como forma de eliminar o domínio inglês e obter a independência da Irlanda, e posteriormente, pretendendo a unificação da Irlanda do Norte ao restante do país. Nas últimas três décadas as ações do IRA e dos grupos paramilitares “protestantes" intensificaram suas ações e foram responsáveis por vários atentados na Irlanda do Norte, principalmente na capital, Belfast.
            A ascensão do Partido Trabalhista ao poder em 1997, a criação do Euro e a "nova ordem mundial" criaram novas condições de negociação política, tendo de um lado a Inglaterra uma nova preocupação, em fortalecer-se dentro da Europa e a própria elite irlandesa católica, preocupada em aproveitar as novas condições de desenvolvimento. A suspensão dos atentados por ambos os lados foi fundamental para que as negociações pudessem existir, criando condições concretas para a pacificação da região.

IRA: adeus às armas
O Exército Republicano Irlandês (IRA) anunciou formalmente, no dia 28 de julho de 2005, o fim da luta armada contra o domínio britânico na Irlanda do Norte (Ulster). É uma decisão histórica, tomada depois de mais de três décadas de uma intensa - e muitas vezes sangrenta - campanha que o grupo patrocinou em prol da reunificação da ilha da Irlanda. Ela foi fruto de um acordo que vinha sendo costurado há meses entre o governo britânico e Garry Addams, presidente do Sinn Féin (braço político do IRA e partido que mais cresce na Irlanda do Norte).
O anúncio da deposição das armas não significa que o IRA tenha abandonado seus ideais. O Exército Republicano Irlandês afirmou que continuará com a luta em prol da reunificação da Irlanda do Norte (controlada pelos ingleses) com a República da Irlanda. Porém, a estratégia agora será diferente: o IRA pretende fazer uso apenas das vias políticas e democráticas para atingir seus objetivos, deixando de lado as táticas de guerrilha que já provocaram a morte de 1,8 mil pessoas nas três últimas décadas.
A notícia foi bastante festejada pelo primeiro-ministro britânico Tony Blair, que, como prova de confiança na negociação, determinou a remoção de torres e bases militares britânicas existentes na Irlanda do Norte. No entanto, foi recebida com cautela pelo governo dos Estados Unidos e por líderes do Partido Democrático Unionista, da Irlanda do Norte, um dos principais opositores do IRA.
Eles afirmam que, caso as armas não sejam de fato depostas, esse poderá ser apenas mais um dos inúmeros acordos de paz não cumpridos ao longo dos últimos anos. O IRA, por sua vez, salientou que pretende colocar suas armas fora de uso o mais rápido possível.”

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