POPULAÇÃO
____________________________
Item: Conflitos
Étnico-nacionalistas e Separatistas
Parte: 3 de 7
____________________________
2 - A Questão Basca... O povo basco habita o norte da
Espanha e o sul da França há mais de seis mil anos e forma um conjunto de
aproximadamente 2,5 milhões de pessoas. Trata-se de um povo que preserva sua
identidade e que tem língua (Euskera) e cultura própria.
O conflito surgiu no fim do
século XV e início do XVI com a unificação do reino espanhol. O povo basco
resistiu ao longo dos séculos à diversos tipos de invasões, até mesmo dos
romanos; hoje sua luta continua sendo a busca por manter sua identidade
cultural.
Durante
a ditadura do General Franco (1939 – 1975), surgiu em 1959 o grupo separatista
ETA (Euskadi Ta Azkatasuna, que significa “Pátria Basca e Liberdade”);
inicialmente era um movimento político, de cunho socialista, originário da
união de grupos partidários. No entanto, havia um clima de descontentamento no
País Vasco (na Espanha, Basco é escrito e fonado como Vasco).
“Desde a Guerra Civil
Espanhola (1936-39) e do bombardeio à cidade de Guernica pelos
nazistas alemães como represália ao apoio do povo basco aos republicanos, então
aliados dos anarquistas e socialistas e, a proibição do vasconço em todo o
território basco pelo general Franco, o sentimento nacionalista basco foi se
tornando cada vez mais forte. Estes fatos, também contribuíram para que o ETA
decidisse pela luta armada e tivessem o apoio da população.”
Terminada
ditadura de Franco, os bascos passaram a desfrutar de relativa autonomia
naquele país, chegando a possuir um sistema de impostos, parlamento e polícia
próprios.
No
entanto apesar de não contar com o apoio da maioria dos bascos, a organização
terrorista, criada durante a ditadura de Franco, realizou atentados, desde o
final dos anos 1970, com o objetivo de pressionar o governo espanhol a
reconhecer a independência total do País Basco. No fragmento abaixo vemos a
situação atual do ETA.
Atualmente o
Partido Nacionalista Basco (PNV) tenta um acordo com o governo espanhol para a
realização até o final de 2008, em caráter consultivo e, até 2010 de forma
definitiva, de dois plebiscitos onde o povo basco decidirá sobre o tipo de
governo a ser adotado e sobre a relação política entre o País Basco e a
Espanha. No entanto, o primeiro – ministro espanhol, José Luis Zapatero,
rejeita o plano Ibarretxe, como é chamado o plano lançado pelo PNV. Até lá as
expectativas apontam que o ETA deverá decretar mais um cessar
fogo como próximo ao plebiscito como manifestação de apoio ao PNV.
3
- A Questão da Irlanda... O acordo celebrado na Irlanda do Norte pretende
por fim a séculos de dominação inglesa e a décadas de terrorismo de guerrilheiros
separatistas e de paramilitares protestantes.
Nas
últimas décadas, as ações terroristas do IRA ( Exército Republicano Irlandês),
organização "católica", e da Força de Voluntários do Ulster, força
paramilitar "protestante" foram responsáveis por dezenas de mortes e
representaram o problema externo mais grave enfrentado pelos governantes da
Inglaterra.
A
história da Irlanda é totalmente desconhecida no ensino brasileiro, e o
conhecimento da história da Inglaterra é superficial, em seus "grandes
momentos", como a formação da Monarquia, o absolutismo ou a Revolução
Industrial e nunca faz referência ao domínio sobre a Irlanda. Então surge a
pergunta: Por que a guerra entre católicos e protestantes? Se na maioria dos
países ocidentais existem várias religiões convivendo pacificamente, por que
isso não ocorre na Irlanda do Norte?
Origens do Conflito
Para
compreendermos o problema, temos que buscar suas raízes no século XII, quando
começou a conquista inglesa do território irlandês e a partir de então podemos
perceber que o problema não é religioso, pois nesse período não havia
"protestantes". O que estava em jogo era o aumento do poder real, no
contexto da crise feudal e do início do processo de formação da Monarquia
Nacional. Para Henrique II, a conquista de territórios significava o aumento de
seu poder, uma vez que, a nobreza irlandesa tornava-se vassala do rei e
consequentemente passava a lhe dever benefícios, tanto em gêneros, como em
tributos ou inclusive em homens para a formação de exércitos. Desde 1175 o rei
impôs seu poder através da Tratado de Windsor, a partir do qual passaram a
valer as leis inglesas para a Irlanda.
O
domínio da Inglaterra retraiu-se durante os séculos XIV e XV, período de crise
decorrente da Guerra dos Cem Anos (1337 - 1453) contra a França; e da Guerra
das Duas Rosas (1455 - 85), que envolveu praticamente toda a Inglaterra, numa
disputa entre as grandes famílias de nobres pelo poder. Após a Guerra das Duas
Rosas iniciou-se a Dinastia Tudor, que centralizou o poder e, com Henrique VIII
consolidou o absolutismo no país. O governo absolutista na Inglaterra teve como
um de seus mais importantes alicerces a Igreja Anglicana, criada pelo próprio
rei no contexto da Reforma Protestante, reconhecida pelo Parlamento como Igreja
Oficial do Estado através do Ato de Supremacia (1534) Durante a Idade Moderna
as igrejas europeias, não só a Anglicana, foram utilizadas como instrumentos de
poder, e não só na Inglaterra. A característica marcante do ponto de vista
religioso foi à intolerância, praticada por reis e clérigos: Assim como os
protestantes eram perseguidos nos países católicos, esses eram perseguidos nos
países protestantes, como na Inglaterra a partir de Henrique VIII; foi assim
que o conflito com a Irlanda passou a ter feições religiosas.
A
imposição do poder absoluto inglês foi acompanhado da imposição da nova
religião. Dessa maneira, a manutenção do catolicismo por parte dos irlandeses
tornou-se uma forma de contestar o domínio inglês, além de preservar sua
própria cultura.
A
contestação ao domínio inglês representava a luta contra o poder político e
religioso já que os dois estavam concentrados nas mãos do rei, principalmente
durante o reinado de Elizabeth I, que impôs os Estatutos de Supremacia e
Uniformidade, reafirmando a supremacia da Igreja e das leis inglesas sobre a
Irlanda.
O século XVII
Durante
o reinado de Jaime I (1603-25), consolidou-se o controle das terras pelos
ingleses, em especial na região do Ulster, onde foi instituído um sistema de
colonização baseado na pequena propriedade, discriminando-se os irlandeses.
A
situação de exploração e miséria, e de imposições político-religiosas
determinou o início de uma grande rebelião em 1641, violentamente reprimida
pelas tropas de Oliver Cromwell, líder da Revolução Puritana, fanático
calvinista que havia deposto o rei e proclamado a República na Inglaterra, que
derrotou completamente a rebelião em 1652, quando então, a maior parte das
terras passaram para a mão dos ingleses.
Até
o final do século os irlandeses rebelaram-se outras vezes e foram reprimidos,
consolidando-se o poder inglês. Após a derrota de Jaime II em 1690 os
irlandeses viveram um período de miséria e de perseguições, responsável pelo
desenvolvimento de um maior sentimento nacionalista e católico, uma vez que a
repressão inglesa passou a estar associada à religião "protestante".
A independência
A
repressão inglesa e o sentimento nacionalista foram responsáveis pela eclosão
de uma Revolução em 1798, dirigida por uma sociedade secreta denominada
Irlandeses Unidos.
Em 1829, um movimento nacionalista e popular conquistou alguns direitos políticos e civis para os católicos, que poderiam ocupar a maior parte dos cargos públicos, apesar da manutenção do voto censitário.
Em 1829, um movimento nacionalista e popular conquistou alguns direitos políticos e civis para os católicos, que poderiam ocupar a maior parte dos cargos públicos, apesar da manutenção do voto censitário.
Entre
1847-48 o país foi assolado pela fome (devido à praga na cultura de batata) e
por uma epidemia de tifo, responsáveis pela morte de aproximadamente 800.000
pessoas, cerca de 10% da população total do País. Nas décadas seguintes a crise
foi responsável pela grande imigração, principalmente para o norte dos EUA.
Em
1905 foi fundado o Sinn Féin (nós sozinhos) importante movimento nacionalista
que se propunha a lutar pela soberania da Irlanda de forma legal e que, com
grande apoio popular, elegeu em 1918 a maioria dos deputados irlandeses ao
Parlamento Britânico. Fortalecido, o Sinn Féin proclamou unilateralmente a
independência da Irlanda, provocando a reação inglesa e de grupos protestantes
da região do Ulster (norte). Depois de dois anos de conflitos, em 6 de dezembro
de 1921, foi assinado um tratado pelo qual a Irlanda ( com exceção do Ulster)
tornou-se um Estado independente, porém considerado ainda como domínio da coroa
inglesa, integrando a commonwelth.
A
independência completa foi obtida a partir da Constituição de 1937, quando a
Irlanda passou a denominar-se EIRE, desvinculando-se completamente da monarquia
britânica; porém essa situação somente foi reconhecida pela Inglaterra em 1949,
que concedeu autonomia ao Ulster, que passou a denominar-se Irlanda do Norte.
"IRA"
Fundado
em 1919, o IRA ( Irish Republican Army) passou a utilizar-se da guerrilha como
forma de eliminar o domínio inglês e obter a independência da Irlanda, e
posteriormente, pretendendo a unificação da Irlanda do Norte ao restante do
país. Nas últimas três décadas as ações do IRA e dos grupos paramilitares
“protestantes" intensificaram suas ações e foram responsáveis por vários
atentados na Irlanda do Norte, principalmente na capital, Belfast.
A
ascensão do Partido Trabalhista ao poder em 1997, a criação do Euro e a
"nova ordem mundial" criaram novas condições de negociação política,
tendo de um lado a Inglaterra uma nova preocupação, em fortalecer-se dentro da
Europa e a própria elite irlandesa católica, preocupada em aproveitar as novas
condições de desenvolvimento. A suspensão dos atentados por ambos os lados foi
fundamental para que as negociações pudessem existir, criando condições
concretas para a pacificação da região.
“IRA: adeus às armas
O Exército
Republicano Irlandês (IRA) anunciou formalmente, no dia 28 de julho de 2005, o
fim da luta armada contra o domínio britânico na Irlanda do Norte (Ulster). É
uma decisão histórica, tomada depois de mais de três décadas de uma intensa - e
muitas vezes sangrenta - campanha que o grupo patrocinou em prol da
reunificação da ilha da Irlanda. Ela foi fruto de um acordo que vinha sendo
costurado há meses entre o governo britânico e Garry Addams, presidente do Sinn
Féin (braço político do IRA e partido que mais cresce na Irlanda do
Norte).
O anúncio da
deposição das armas não significa que o IRA tenha abandonado seus ideais. O
Exército Republicano Irlandês afirmou que continuará com a luta em prol da
reunificação da Irlanda do Norte (controlada pelos ingleses) com a República da
Irlanda. Porém, a estratégia agora será diferente: o IRA pretende fazer uso
apenas das vias políticas e democráticas para atingir seus objetivos, deixando
de lado as táticas de guerrilha que já provocaram a morte de 1,8 mil pessoas
nas três últimas décadas.
A notícia foi
bastante festejada pelo primeiro-ministro britânico Tony Blair, que, como prova
de confiança na negociação, determinou a remoção de torres e bases militares
britânicas existentes na Irlanda do Norte. No entanto, foi recebida com cautela
pelo governo dos Estados Unidos e por líderes do Partido Democrático Unionista,
da Irlanda do Norte, um dos principais opositores do IRA.
Eles afirmam
que, caso as armas não sejam de fato depostas, esse poderá ser apenas mais um
dos inúmeros acordos de paz não cumpridos ao longo dos últimos anos. O IRA, por
sua vez, salientou que pretende colocar suas armas fora de uso o mais rápido
possível.”


Nenhum comentário:
Postar um comentário